Crise de riso e choro ao mesmo tempo

O riso ou o choro descontrolado e desproporcional ao contexto social pode ser sintoma de doenças neurológicas como Eclerose Lateral Amiotrófica, demência frontotemporal, Mal de Alzheimer, Mal de Parkinson, tumores cerebrais, decorrência de AVC (acidente vascular cerebral) ou de traumatismo cranioencefálico. Chamado de afeto pseudobulbar, o transtorno neurológico se manifesta subitamente, sem que o paciente possa controlar suas emoções. "A pessoa está falando sobre qualquer assunto ou está quieta e, de repente, começa a rir ou chorar. São reações desprovidas de um contexto. Também há casos em que a pessoa está num velório, em um ambiente de tristeza, e cai na gargalhada", explica a médica neurologista e vice-coordenadora do Departamento Científico de Neurologia Cognitiva e do Envelhecimento da ABN (Academia Brasileira de Neurologia), Jerusa Smid.

Quem apresenta o problema não tem controle e se envolve em situações constrangedoras. "A pessoa que tem o afeto pseudobulbar muitas vezes não percebe que está sendo inadequada até porque é um sintoma associado a um quadro de demência. É muito desconcertante, principalmente para os familiares", destacou a neurologista.

"Às vezes, o transtorno também está relacionado com epilepsia, autismo ou comprometimento intelectual grave e aí a gente tem crianças apresentando isso. Mas tem um tipo de epilepsia que é a risada estereotipada, então é até difícil de diferenciar e é bem importante esse diagnóstico diferencial do médico", afirmou a psicóloga especialista em neuropsicologia e professora da PUC em Londrina, Juliane Borges. A avaliação deve ser multiprofissional e cada caso deve ser minuciosamente analisado.

TRATAMENTO
No Brasil não há estatísticas sobre a incidência do problema e, nos Estados Unidos, a estimativa do número de casos de afeto pseudobulbar aponta uma variação grande, entre 1,8 milhão e 7,1 milhões de pessoas. Não há cura para o transtorno. Nas fases iniciais, pode ser contornado e tratado com medicamentos. A substância mais eficaz comprovada por estudos clínicos é o dextrometorfano, mas por não ser produzido no País, só é possível o acesso por meio de importação, o que inviabiliza o tratamento para uma grande parcela da população. A alternativa disponível são os medicamentos antidepressivos. "Por um tempo conseguimos controlar esses sintomas com as medicações antidepressivas, mas como muitas vezes o afeto pseudobulbar está associado a doenças degenerativas, como a Esclerose Lateral Amiotrófica, demência frontotemporal ou outras formas de demência, que são situações que não têm cura, isso vai piorando, não tem reversibilidade", ressaltou Smid.

Os antidepressivos, explicou Borges, atuam em neurotransmissores que podem estar envolvidos na fisiopatologia do afeto pseudobulbar. "Mas ainda tem muitas pesquisas para serem feitas, as medicações estão muito em fase de testes e o tratamento acaba sendo mais dos sintomas secundários da tristeza decorrente, do isolamento social, porque a pessoa acaba ficando excluída. Gera também apatia, fadiga crônica."

Sobre a relação com a depressão, lembrou Borges, uma pista para os pacientes e os familiares ficarem atentos é o quanto a depressão e o afeto pseudobulbar são comórbidos e, sendo assim, ataques de riso, por exemplo, não combinam com um indivíduo que está constantemente cabisbaixo, o quanto a expressão do riso é descontextualizada.

O uso de remédios, destacou a médica neurologista, ajuda a diminuir os episódios de descontrole, tornando-os mais espaçados, mas não fazem com que o paciente tenha o controle da situação. "Esses acessos estão fora do controle da pessoa, são absolutamente involuntários", disse Smid.

ACOMPANHAMENTO PSICOLÓGICO
Embora o transtorno seja tratado no campo da neurologia, o psicólogo e coordenador do curso de Psicologia da PUC em Londrina, Marcos Garcia considera importantes os cuidados com a qualidade de vida de quem sofre com o afeto pseudobulbar. O acompanhamento psicológico pode auxiliar na relação do paciente com os familiares e com a sociedade, de um modo geral. "Quanto mais as pessoas souberem, menos espantadas elas vão ficar caso ocorra um riso ou um choro inapropriado."

Apesar de ser menos comum, o afeto pseudobulbar pode se manifestar nos primeiros estágios das doenças neurológicas, mas com a piora do quadro clínico, as chances de apresentar esse sintoma aumentam. "Sempre são sintomas que aparecem depois de uma lesão ou de uma cirurgia para retirada de um tumor, mas se tiver um tumor afetando aquela via, associado a outros sintomas, como fadiga crônica e irritabilidade, o afeto pseudobulbar pode ser um indício da doença", disse Garcia.

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Quem nunca chorou de tanto rir? (Foto: Pixabay)

Pode parecer contraditório, mas chorar de tanto rir é uma reação bastante comum. Embora não seja completamente compreendida, existem algumas possíveis explicações para entende por que isso acontece.

Uma delas é neurológica, de que ambas as reações são catárticas e com algum tipo de relação dentro do cérebro — não à toa, algumas situações tristes ou vergonhosas acabam se tornando cômicas. No livro Curious Behavior: Yawning, Laughing, Hiccupping, and Beyond (Comportamento Curioso: Bocejo, Risada, Soluços e Mais, publicado em 2012 e sem tradução para o português), o psicólogo Robert Provine, da Universidade de Maryland, especula que o riso e o choro têm origem no mesmo centro do cérebro. Ele também observa que as duas liberam hormônios como cortisol e adrenalina.

Em outro livro, Crying: The Mystery of Tears (Choro: O Mistério das Lágrimas, publicado em 1985, sem tradução para o português), o médico William Frey mostra que lágrimas de emoção têm mais proteínas que as produzidas de outras maneiras, como por conta do contato de um corpo estranho na região ocular. Seria um jeito do corpo expelir as substâncias produzidas pelo estresse. 

A outra explicação é física. Quando você ri muito forte, você fecha e aperta os olhos, o que pode provocar o chamado “choro por reflexo”, algo causado normalmente por rajadas de vento, por exemplo.

Existe, porém, uma condição que faz as pessoas chorarem ou rirem de forma incontrolável e desproporcional ao evento. O transtorno de expressão emocional involuntária, também conhecido como "labilidade emocional", ocorre em pessoas com lesões ou transtornos neurológicos, que podem afetar a forma como o cérebro controla as emoções. A condição é rara e costuma se resolver em alguns meses, com tratamento de psicoterapia e, em alguns casos, antidepressivos.

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É normal chorar e rir ao mesmo tempo?

Pode parecer contraditório, mas chorar de tanto rir é uma reação bastante comum. Embora não seja completamente compreendida, existem algumas possíveis explicações para entende por que isso acontece.

Por que choramos e rimos ao mesmo tempo?

Isso acontece porque tanto os nervos quanto as glândulas lacrimais estão conectados ao sistema nervoso parassimpático, parte do sistema nervoso que estimula atividades relaxantes em glândulas e músculos. Os dois fenômenos podem ocorrer tanto sozinhos como em conjunto.

Quem tem transtorno bipolar chora?

Sim. Após um surto de um episódio de mania do Transtorno Bipolar é comum que o indivíduo fique mais retraído e há um risco maior de episódio depressivo. O Transtorno Bipolar requer o tratamento com um especialosta, ou seja, um psiquiatra.

O que pode ser crise de riso do nada?

Ataque de riso O transtorno pode surgir como um sintoma de acidente vascular cerebral, traumatismo craniano, tumor no cérebro, esclerose lateral amiotrófica, esclerose múltipla e outras doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e Parkinson.

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