Depois de um ano e meio trabalhando como frellancer, voltei à CLT no início de 2019. Mas antes do emprego, vieram os processos seletivos e, com eles, as entrevistas. Na maioria delas, a mesma pergunta: como você se vê daqui a cinco anos?
Essa é de praxe, né? Algum recrutador já deve ter te perguntado isso. Nenhuma novidade até aí, certo? E se a pergunta é clássica, a gente faz o que? Treina antes pra chegar na entrevista com a resposta na ponta da língua.
Eu bem que treinei…
Primeiro escrevi no meu caderno “como você se vê daqui a cinco anos?” e me pus a refletir. A resposta não veio.
Continuei com a caneta na mão pensando no futuro e em tudo o que eu gostaria de manter nos próximos anos: Bruno (♥), casa, amigos, família, saúde.
“Peraí, isso não vai agregar. É vida pessoal. O recrutador quer saber das minhas ambições profissionais” – lembrei a mim mesma.
Tá, então risca tudo e começa de novo.
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Pensei mais um pouco, mas aí lembrei que não funciona bem comigo planejar a carreira para daqui a cinco anos. Sou ansiosa demais, então me poupo de planos e metas a longo prazo para a minha vida não virar uma lista interminável de tarefas.
Mas não é só isso. É também pelo fato de ter aprendido, por experiência própria, que não adianta planejar tanto. Você pode muito bem traçar aquele plano de ação robusto para a sua carreira, com objetivo geral, objetivos específicos, metas específicas, mensuráveis, atingíveis, relevantes e temporais. Ações, prazos, status; tá tudo lá bunitinho.
E aí o que acontece? As coisas saem bem fora do planejado, bem fora mesmo. Um tapa na cara ou um lembrete de que a vida é mesmo uma caixinha de surpresas?
“Bom, não é hora para esse tipo de reflexão – pensei”. Basta deixar claro para o recrutador que eu tenho visão de futuro, ambição profissional e interesse em construir carreira na empresa. E só. Sem mais delongas. Sem bancar a sincerona. Sem abrir brecha para mais perguntas.
Pedindo uma luz para o Google
Ok, é só dizer exatamente o que o recrutador quer ouvir e pronto. Mas a resposta que escrevi no meu caderno me pareceu evasiva demais: “Espero estar trabalhando na minha área e desenvolvendo grandes projetos dentro da empresa”.
É, não só parece, como é evasiva demais, mas é melhor responder assim do que soltar coisas do tipo: “espero ser gerente na empresa” ou “espero abrir meu próprio negócio” ou “espero estar morando na Austrália”.
Sem dúvidas é melhor mesmo, mas será que eu não podia ser mais específica na resposta? Dizer, por exemplo, que daqui a cinco anos eu espero ser fluente no inglês?
Não é nenhuma mentira, mas pra que reforçar o negativo nesta hora? Eu com mais de dez anos de formada e ainda sem fluência no inglês? Hum, não vai cair bem. Tô achando que vou pedir uma luz pro Google…
Só que não foi bem assim…
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Pesquisando no Google, descobri que essa pergunta é complexa pra muita gente. Tem mais candidatos por aí sem a resposta na ponta da língua. Culpa nossa que não temos um plano de carreira ou tudo bem não planejar tanto?
Voto na alternativa dois. Aliás, prefiro mesmo planejar a curto prazo, bem no estilo “viva um dia de cada vez”. Planejar o dia, a semana, a próxima viagem – isso sim me parece mais possível.
Cinco anos é tempo demais. Consigo no máximo desejar que eu esteja trabalhando num lugar legal, ganhando mais do que hoje e crescendo profissionalmente. Desejo também estar em paz com as minhas escolhas.
Para que meus desejos se realizem, vou continuar estudando, me atualizando e dando o meu melhor. Mas não vou planejar tanto, nem ficar me guiando por um plano de carreira, como se fosse um GPS.
Também não vou me cobrar além da conta e ficar achando que eu deveria estar fazendo mais, porque os outros estão prosperando e eu ficando para trás.
Eu não deveria acordar 5 am? Eu não deveria postar um artigo por semana no Linkedin? Eu não deveria fazer mentoria? Eu não deveria atualizar o Instagram todos os dias? Eu não deveria ler sobre educação financeira? E mudar meu mindset, não deveria não?
Aprender a investir em ações? Praticar inglês, italiano, alemão? Me inscrever num curso online? Contratar um coach de ALTA PERFORMANCE? Ser protagonista da minha carreira? Ter senso de dono? Conquistar o primeiro milhão? Vencer na vida?
Uma pausa para respiro
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Uma pausa para respiro depois de tanto deveria, deveria, deveria. E vou respirar aliviada, sabe por que? Porque tudo isso que eu falei aí em cima não pesa mais na minha lista de cobranças. Estou pegando mais leve comigo e me cobrando menos.
Também não me deixo enganar pela cultura de “alta performance” tão difundida nas redes sociais. Não estou disposta a negligenciar minha vida pessoal pra conseguir “chegar lá”.
Dormir pouco, trabalhar no fim de semana e não ter energia pra mais nada? Tô fora! Por aqui as definições de sucesso foram atualizadas! Eu quero é aproveitar BEM o meu tempo.
E sabe de uma coisa? Não espero ter todas as respostas. Não sei mesmo responder “como você se vê daqui a cinco anos?”. E não preciso me sentir pior por isso.
E nem precisava ter perdido tanto tempo e energia pensando na melhor resposta pra entrevista. “Olha, eu não estou certa de onde quero estar, mas espero que a minha carreira esteja em evolução”. E pronto, é o que temos para o momento.
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Fim do post e hora de continuar a conversa nos comentários! Me conta: você é bem resolvido (a) com a pergunta “como você se vê daqui a cinco anos?”