Especial Beleza 1 - As mudanças dos padrões de beleza ao longo da história ( 06' 01'' )
NAS CINCO REPORTAGENS ESPECIAIS DESSA SEMANA, A JORNALISTA DANIELE LESSA MERGULHA EM UM TEMA MUITO PRESENTE NA VIDA DA HUMANIDADE: A BUSCA PELA BELEZA E PELA JUVENTUDE. HOJE VOCÊ ACOMPANHA A MUDANÇA DOS PADRÕES DE BELEZA AO LONGO DA HISTÓRIA. A MULHER MAGRA QUE É ADMIRADA HOJE SERIA CONSIDERADA FEIA ATÉ POUCO TEMPO ATRÁS.
No mundo atual, e no Brasil principalmente, a busca pela beleza e pela juventude está em todo o lugar. O apelo vem da televisão, do cinema, das propagandas onde homens e mulheres parecem ter vindo do Olimpo, sem qualquer imperfeição física. Na modernidade, a busca pela beleza virou comércio e movimenta bilhões de dólares em cosméticos, cirurgias plásticas, tratamentos contra rugas, celulites e gordurinhas inconvenientes. Está declarada a guerra contra a natureza que criou o envelhecimento. E nessa batalha, a pressão pela beleza recai com mais força sobre as mulheres. O poeta Vinicius de Moraes resumiu a situação com certa crueldade quando disse simplesmente: as feias que me desculpem, mas beleza é fundamental.
Mas a revolta da humanidade com o passar do tempo vem de longa data. A Grécia Antiga admirava a beleza dos corpos e cultuava deuses imortais, sempre jovens e sedutores. A filósofa Maria de Lourdes Borges, da Universidade Federal de Santa Catarina, lembra que a busca pela beleza e pela juventude são universais.
"A busca da beleza é natural. A busca da juventude é natural, no sentido de que isso acontece em todas as civilizações. Isso vem na nossa consciência que somos finitos, nós tememos a morte, não queremos a morte. Nós sentimos que quando o nosso corpo envelhece isso significa uma certa proximidade maior da morte. Então de certa maneira é natural que tanto homens quanto mulheres queiram manter a juventude"
Mas o que é ser belo? Essa pergunta já teve diversas respostas ao longo da história. Mas algumas características aparecem em lugares e épocas diferentes. A admiração pela simetria dos traços do rosto, os ombros fortes para os homens e o corpo de violão para as mulheres são sinais de beleza considerados universais. Civilizações antigas fizeram imagens onde o barro moldou mulheres de quadris largos e seios fartos. Nas cavernas ou nas obras de arte de pintores como Boticcelli e Rubens, as mulheres eram admiradas por curvas que permitiam uma barriguinha sem maiores traumas.
O geneticista da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Renato Zambora, aponta que a beleza é uma questão importante para que os homens escolham as esposas. E durante a evolução humana, a beleza feminina se relacionou com a capacidade de ter filhos. Mulheres gordas, de quadril largo e cintura fina, indicavam a possibilidade de gerar uma prole saudável. Renato Zambora explica que a cultura pode criar padrões estéticos diferentes, como o culto à magreza que se vê hoje, mas o cérebro masculino continua reagindo à beleza da mesma forma que há milhares de anos.
"Não é verdade que homens achem muito bonitas mulheres muito magras. Elas perdem os ícones sexuais, a relação da cintura quadril fica prejudicada porque o quadril emagrece, e ficam praticamente com ausência de mamas. O cérebro não identifica aquilo como corpo de mulher e não sente desejo"
A historiadora Mary del Priore, da Universidade de São Paulo, indica que o primeiro documento sobre a beleza da mulher brasileira seria a carta de Pero Vaz de Caminha, que louva a beleza da mulher indígena, descrita como limpa e gorda.
"É interessante esse olhar masculino sobre o corpo da índia nua e gorda porque a gordura, de fato, no século XVI, as carnes cheias, o corpo cheio, é sinônimo de beleza que nós já podemos detectar na pintura do Barroco. Uma mulher de costelas à mostra seria certamente um sinônimo de feiúra. A magreza sempre é vista da perspectiva da fome, do empobrecimento e da doença"
A gordura como padrão de beleza se associa também com o consumo alimentar das elites que tinham acesso ao açúcar, artigo raro e muito caro naquela época. Mary del Priore explica que no decorrer dos séculos, o corpo feminino mais cheio continuou a ser admirado. As curvas seguiam insinuando o poder feminino de gerar.
"E esse potencial procriador está nos quadris, está nas cadeiras, no bumbum, no ventre. Quanto mais cheio embaixo, mais bonita era a mulher. A moda, inclusive, vai acentuar esse critério estético porque a moda das anquinhas, que atravessa toda a segunda metade do século XIX, ela acentua o posterior da mulher, enquanto o espartilho comprime violentamente a cintura, projetando os seios. Então, realmente a mulher se torna no imaginário masculino um verdadeiro violão"
Nesse mesmo século XIX, a magreza vira moda na esteira das heroínas românticas retratadas nos livros. As mulheres se deixavam emagrecer e se maquiavam para simular olheiras mais profundas. Mas foi um modismo passageiro, e a imagem das carnes cheias como padrão de beleza vai chegar até o século XX. Mas nesse momento, transformações importantes acontecem com a mudança nos papéis da mulher e sua entrada no mercado de trabalho. O fortalecimento da indústria da beleza e a globalização também irão modificar a maneira como as pessoas buscam uma forma física atraente. É o que nós vamos acompanhar na próxima reportagem.
De Brasília, Daniele Lessa
AMANHÃ VOCÊ CONFERE COMO SE FORMOU O PADRÃO DE BELEZA QUE PREDOMINA HOJE NO MUNDO OCIDENTAL