Como é encontrada a arte de conviver consigo mesmo?

Nem ausência, nem sufoco. Vamos ao encontro.

Muitos sentem saudade da família de antigamente. Um cenário em que os pais tinham o comando da casa, cada um sabia o seu lugar e os filhos iam dormir na hora combinada. Se observarmos hoje em dia nas ruas, shoppings, escolas e parques, veremos que muita coisa mudou. As crianças de hoje se mostram muito mais desafiadoras, impulsivas, impositivas e parece que são elas que mandam em seus pais e até nos professores. Há quem diga que as crianças de hoje andam sem limites.

Entretanto, os responsáveis por passar tais limites para os mais novos são justamente os mais velhos, os que devem “comandar” o lar e definir suas regras. Parece que vivemos um momento cujo lema é “tudo pelos filhos”. Isso está errado. Educar um filho com a ideia de que ele pode mandar nos outros, de que ele é melhor do que os demais e que ele pode tudo é altamente perigoso, tanto para a criança quanto para os que convivem com ela.

Todos sabemos que no mundo adulto se trabalha em equipe, nos relacionamentos amorosos precisamos aprender a dialogar e, assim, uma pessoa que cresce se achando melhor do que as outras e sem ter aprendido a controlar seus impulsos e desejos vai certamente sofrer.

Dizer “não” quando necessário não significa ser um mau pai, mãe ou responsável, pelo contrário: demonstra capacidade de cumprir o papel educativo e mostrar para a criança os valores que querem são importantes naquele lar.

Há uma grande diferença entre uma casa e um lar. Na casa, as pessoas convivem, cada uma no seu canto ou do seu jeito, cada um faz o que quer e quando quer. Se um pai quer gritar, ele solta a voz. Se uma mãe discorda do castigo ou orientação dado pelo pai ao filho, ela vai lá e mima o garoto. Uma família assim é uma família em conflito, que sofre pela falta de diálogo, de unidade entre os adultos responsáveis e tende a formar crianças mais inseguras e ansiosas, que desconhecem as regras básicas de convivência.

No lar, os adultos agem como tal e conversam entre si para definir os valores que querem transmitir aos filhos, e a partir disso organizam toda a vida em família: onde vão passear no final de semana, que tipo de alimentação vão oferecer para as crianças e adolescentes, qual o horário certo para dormir, de que forma acompanhar os estudos e o desempenho de cada um na escola, respeitando suas particularidades, e, mais importante ainda, a mãe, pai ou o casal reflete constantemente sobre como manter em equilíbrio e crescimento constante a família que construíram.

O lar é um lugar de luz, de amor, de união, em que as pessoas não têm medo de manifestar carinho e de fazerem pequenas gentilezas. Demonstrar afeto é cuidar, é saber dizer “eu te amo” e comemorar as conquistas, é perceber quando um pedido de desculpas espontâneo é necessário e também é cuidar para ter um ambiente bonito e agradável. Tudo isso gera um clima positivo e sinaliza que as pessoas se querem bem.

Por isso tudo, finalizo me dirigindo a você que já tem a família formada, que está começando a sua ou mesmo ainda nem tem a sua própria família formada, para lembrá-lo que não existe “a família” e sim “a sua família”. Formada pelas mais diferentes configurações. É preciso lembrar que aquilo que se vê em um lar é o resultado do grau de compromisso e reflexão que os adultos envolvidos decidiram ter em sua própria vida.

Diante disso, a palavra-chave é proatividade, algo tão importante no mundo do trabalho quanto no desafio tão delicado de formar um lar. Finalizo com uma pergunta: se você assumisse 100% a responsabilidade pela sua família, o que mudaria na sua postura? Pense bem. Viva bem.

Em tempos de isolamento social, lockdown e inúmeras restrições às liberdades individuais, nos vemos obrigados a encarar uma realidade completamente atípica, onde a solidão é inevitável.

Muitos, apesar da incerteza, veem a situação como uma oportunidade de reflexão e aprimoramento pessoal. Outros acabam convivendo com um sentimento de desconforto, angústia e, muitas vezes, de tristeza.

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Diante do caos de uma situação sem precedentes no nosso século, um fenômeno fica cada vez mais evidente: as pessoas já não sabem (ou talvez nunca souberam) lidar com a própria presença, com o silêncio e, principalmente, com a solidão. Muitos, inclusive, adquirem um medo patológico de estarem sozinhos, chamado por cientistas de monofobia. Segundo pesquisas, esse medo vem crescendo cada vez mais, sobretudo entre os jovens.

A realidade em que vivemos somente contribui para o agravamento desse fenômeno. Antes mesmo da Covid-19 e das medidas de isolamento social, já era uma obviedade constatar que, nos tempos modernos, temos cada vez mais incentivos para fugirmos de nós mesmos. Esses incentivos se dão tanto através do uso de dispositivos e redes sociais — que tomam uma fatia espantosa do nosso tempo— quanto pela adoção quase cultural de uma infinidade de válvulas de escape que nos inibem de passarmos sequer um minuto sozinhos.

Trabalhamos madrugadas adentro, passamos horas na academia, frequentamos festas religiosamente todos os fins de semana, marcamos encontros com pessoas que sequer gostamos e, quando finalmente temos um tempo para nós mesmos, fazemos uso de todas as formas possíveis de distração; alguns passam horas e horas na frente da televisão (lê-se Netflix), outros bebem e fumam como se não houvesse amanhã, outros colocam música para preencher cada espaço de vazio e silêncio ao longo do dia — tudo para se abster do “mundo real”.

Não me leve a mal, não condeno nenhuma dessas atividades (inclusive, pratico muitas delas). Muito menos nego o papel fundamental do trabalho, da prática de exercícios, da diversão e do entretenimento para nossa própria saúde.

O que, de fato, acho digno de reprovação, é o uso indiscriminado dessas atividades como fuga para uma das realidades mais antigas e menos populares da nossa história: a de que estamos sozinhos no mundo.

E não escrevo isso pela perspectiva mais niilista que a expressão possa aparentar. É inegável que nossa civilização evoluiu principalmente pelo convívio e troca mútua de experiências, bens e conhecimento; somos animais sociais — como disse Aristóteles.

Também não me refiro à “inevitável solidão do homem” no sentido de sermos inerentemente antissociais ou de que nada ao nosso redor importa além de nós mesmos, mas sim de que a solidão é um estado natural — assim como a felicidade e a tristeza — e que, se intencionalmente bem utilizado e na medida certa, pode ser uma ferramenta fantástica para nosso desenvolvimento, autorreflexão e saúde mental.

O valor da solidão

Não podemos viver sem a solidão pelo mesmo motivo que não podemos viver sem a dor; somos incapazes de aprender sem elas. A ausência total de dor implica em uma vida fadada à inércia, pois é a dor que nos motiva a reagir, superar obstáculos pessoais, reconhecer nossos erros e sair da tal “zona de conforto”. A ausência total de solidão, por sua vez, pode facilmente nos levar a falta de senso próprio, autoconhecimento e até mesmo de assertividade, já que nossas tomadas de decisão acabam sendo constantemente prejudicadas e influenciadas por ruídos e por pessoas ao nosso redor.

Um estudo da University of California, Santa Cruz revela que há uma série de benefícios provindos da solidãoconsciente ou escolhida (aquela que optamos de forma espontânea)como maior capacidade de autoexpressão, criatividade e renovação espiritual.

Outro estudo — relatado em artigo do The New York Times — também ressalta que adquirir o hábito de identificar momentos em que necessitamos ficar a sós para “recarregar”e refletir pode nos ajudar a lidar melhor com emoções negativas como estresse e esgotamento emocional. Ainda assim, é possível observar que cada vez menos pessoas adotam esse hábito.

“Para muitos, a solidão é como exercitar um músculo que nunca antes foi usado.”

É importante dizer, no entanto, que o excesso de solidão, ou a solidão “imposta”, não é nem um pouco positivo, podendo gerar sérios problemas psicológicos como ansiedade e depressão. Daí surge a importância de, em períodos de isolamento social e quarentena, aprendermos a lidar com a realidade de estarmos sozinhos e, a partir disso, tentar transformar a situação em uma experiência positiva.

Solidão x Solitude

Nossa língua portuguesa (assim como a inglesa) possui um vocabulário que, felizmente, nos possibilita diferenciar o solitário “bom” do solitário “ruim”. A palavra “solitude” serve para conceituar o estado físico de isolamento de uma pessoa — aquele em que, como mostrou o estudo, optamos de forma consciente e voluntária. Já o próprio termo “solidão” implica no sentimento psicológico e negativo que vivenciamos estando fisicamente sozinhos ou não.

“Nossa linguagem sensatamente percebeu os dois lados de estar sozinho. Criou a palavra solidão para expressar a dor de estar sozinho. E criou a palavra solitude para expressar a glória de estar sozinho.” — Paul Tillich

A presença dessa dicotomia não só nos faz perceber a diferença entre os dois “tipos de solidão” como também nos ajuda a entender por que algumas pessoas temem a solidão enquanto outras a buscam. A realidade é que, aqueles que buscam estar sozinhos por motivos conscientes, visando aprimoramento pessoal, na verdade estão atrás de solitude, e não de solidão. Entretanto, quando alguém lhe disser que está “se sentindo muito sozinho”, essa pessoa sente solidão, e não solitude (e você faria um grande bem para ela lhe fazendo companhia).

O indivíduo que nunca está só

Não se engane, uma pessoa que está sozinha pode não ser uma pessoa só, assim como uma pessoa só muitas vezes não está sozinha; isso porque não é preciso estar sozinho para se sentir só.

“A verdadeira solidão não se limita necessariamente a quando você está sozinho.” — Charles Bukowski

O ser humano é cheio de propensões. Somos propensos a acreditar que, estando rodeado de pessoas, vamos anular o sentimento de solidão ou, pelo menos, fingir que ele não existe. Também somos propensos a ver a solidão como um fato físico quando, na realidade, se trata de um fenômeno intangível, de raiz muito mais psicológica (como já explicado). Inclusive, nos inclinamos sempre a associar a pessoa que está só como alguém psicologicamente solitário e, portanto, triste e antissocial.

Por outro lado, tendemos a ver a total ausência de solidão como a figura arquetípica do indivíduo feliz, amado e extremamente sociável, o que realmente pode ocorrer (algumas vezes). O problema é que a superficialidade dessa visão pode esconder uma imagem completamente oposta; a de um indivíduo com uma tristeza internalizada, com baixa autoestima, que precisa estar cercado de pessoas que o cerquem e o elogiem (sendo o elogio sincero ou não); a imagem de um indivíduo completamente alheio a si mesmo, que vive a vida no piloto automático e foge dos próprio pensamentos, aterrorizado pela ideia de ter questionamentos como “Qual o meu propósito?” “O que eu valorizo na vida?”, “Onde eu fiz a diferença?”, “Por quê faço o que faço” e “Onde me vejo no futuro?”.

Sempre os outros, nunca nós

Somos educados a sempre valorizar o outro, o coletivo e a comunidade em detrimento de nós mesmos. Ficar sozinho é perda de tempo quando podemos fazer parte de “algo maior do que nós”, e assim, nos dedicamos de corpo e alma a qualquer pessoa, causa ou até ideologia (das mais orwellianas possíveis), suplantando por completo nossa individualidade.

A verdade inconveniente é que não podemos viver a vida dos outros nem usar a sociabilidade ou “causas maiores” como pressuposto para fugirmos da responsabilidade fundamental e individual que temos perante nós. Muitas pessoas se devotam inteiramente aos outros e se esquecem que a pessoa mais importante no mundo deve ser, primeiramente, elas mesmas. Amam incondicionalmente os outros mas não amam a si. Ajudam sempre os outros mas não se ajudam. Andam sempre com outras pessoas mas não conseguem aproveitar um minuto sequer da própria companhia.

Claro, é muito mais confortável viver a sombra de nossos conhecidos e do senso comum do que assumir nossa individualidade e importância. É mais fácil fechar os olhos e deixar a tempestade conduzir o nosso barco do que assumirmos o controle. É mais cômodo ignorar a verdade do que buscá-la. E é menos doloroso fugirmos da solidão do que aceitarmos o fato de que ela vai sempre estar lá, não como um monstro que nos espreita na escuridão, mas como parte essencial e axiomática do nosso ser.

Há beleza na solidão?

Photo by Pixabay

A solidão (ou solitude), por si só, não é bela — não nascemos para sermos sozinhos. Entretanto, há sim nela algo belo a ser apreciado.

Pense no seu último momento realmente sozinho, sem distrações, sem aplicativos, séries ou música no último volume, somente você e seus pensamentos. Pense na última conversa sincera que teve consigo mesmo e nas vezes que se redescobriu ao entrar em sintonia com sua consciência. Pense nos momentos de plenitude em que, a sós, pôde contemplar a própria existência e sorrir para situações que somente você iria entender.

Pense, agora, nas melhores decisões que você tomou e nas melhores ideias que teve. Você provavelmente não estava rodeado de pessoas, muito menos fugia dos seus pensamentos mais íntimos — estava imerso na própria realidade, abraçando a solidão e entendendo o valor dela para si mesmo e para aquele momento.

“O melhor pensamento foi feito na solidão. O pior, foi feito na turbulência.” — Thomas A. Edison

Exercite sua solidão

Se você não lembra de sequer já ter vivenciado situações semelhantes, agora é o momento ideal para isso. Se você não costuma passar nem um minuto consigo mesmo, use esse período de isolamento social como uma oportunidade para mudar esse hábito. Você não precisa ficar no ócio, olhando para o teto— inclusive, não fique. Tire um tempo para ler um livro, comece um diário, saia para caminhar (se for permitido), pratique meditação ou, ao menos, reserve um momento — nem que seja 10 minutos do seu dia — para estar a sós e refletir sobre sua vida, ou então sobre aquele assunto pouco conveniente que há anos você vem evitando. Tenha um momento de intimidade consigo mesmo e verá que, muitas vezes, seu maior medo é apenas você.

Para quem não é acostumado com isso, a experiência não é fácil. Podemos ficar impacientes, desconfortáveis e até mesmo ansiosos com nossa presença, como se fossemos verdadeiros estranhos. A própria linha que divide a solidão e a solitude pode ser muito tênue e devemos estar atentos a isso.

O lado bom é que, com tempo e esforço — e, em alguns casos mais extremos, apoio psicológico — podemos aprender a lidar e até mesmo apreciar nossa companhia. Podemos inclusive, chegar em um ponto em que amamos tanto ela, que pensamos duas vezes antes de nos engajarmos em qualquer evento social de qualidade duvidosa.

Mas não exagere na dose

Como já dito, o excesso de isolamento pode ser prejudicial para nossa saúde. Ele é como um remédio — uma dose moderada pode nos fazer um grande bem, mas uma dose exagerada pode ser perigosa.

No Japão, por exemplo, mais de meio milhão de pessoas vivem em total reclusão. Essas pessoas, chamadas de hikikomori (que em japonês traduz-se como algo semelhante a “isolado em casa “) são conhecidas por ficarem meses — e até mesmo anos — sem sair do próprio quarto, preferindo sempre o contato virtual ao contato humano.

Não é nem preciso dizer as consequências que um período tão grande de total isolamento e alienação pode ter sobre nossa saúde física e mental. Portanto, não cometa excessos e lembre-se que, assim como a solitude nos faz bem, estabelecer laços e interações humanas significativas (ou seja, não-superficiais) também são aspectos fundamentais para nossa vida. Como disse Honoré de Balzac:

“A solidão é boa, mas precisamos de alguém para nos dizer isso”

Por fim

“Nunca estamos sozinhos quando temos nós mesmos”

Talvez exatamente por se contrapor (aparentemente) a minha primeira afirmação — a de que estamos sozinhos no mundo — essa frase ganhe ainda mais potência e significado. Tomo, então, a liberdade de unir as duas:

“Estamos sozinhos no mundo, mas nunca sentiremos solidão se tivermos a nós mesmos”

Pode parecer extremamente cliché e senso comum (e talvez seja), mas aqueles que de fato enxergam o valor na solitude entendem e se identificam com essa frase por uma perspectiva muito mais verdadeira, íntima e profunda. Aqueles que ainda não enxergam esse valor, o verão assim que começarem a praticar a solidão consciente.

Arthur Schopenhauer, em 1851 escreveu:

“Um homem pode ser ele mesmo apenas enquanto estiver sozinho; e se ele não ama a solidão, não amará a liberdade; pois é somente quando ele está sozinho que ele é realmente livre.”

Portanto, seja livre. Faça da sua solidão um momento de intimidade própria. Se reconecte com seu eu interior (por mais hippie que isso possa parecer). Entre em paz consigo mesmo e faça de você a sua melhor companhia. No final das contas, podemos fugir de tudo e de todos, mas não podemos nunca fugir de nós mesmos.

Onde se encontra a arte de conviver consigo mesmo?

A arte de conviver consigo mesmo é encontrada na forma da expressão humana.

Como é conviver consigo mesmo?

A experiência de olhar para si mesmo, visitar o eu interior, significa que podemos apelar para alguma coisa mais profunda que nos alimenta, sustenta e que não depende das turbulências externas e das fraquezas humanas, mas nos remete para algo maior, a um encontro supremo com algo que em nossa cultura chamamos de “DEUS” ...

O que consiste na arte de conviver?

A arte do conviver e aprender depende do comprometimento pessoal com a valorização da vida e do viver, orientada por princípios, valores, e posturas que reconheçam a nossa responsabilidade na criação da realidade, compreensão e entendimento de nós e do mundo, por meio das nossas crenças, paradigmas, opiniões e ações.

Quais são os benefícios da boa convivência consigo mesmo?

Afinal, além de ajudar no desenvolvimento de uma comunicação efetiva, ela pode trazer uma série de benefícios para a nossa vida social e estreitar os nossos laços de quem mora perto da gente. Quando criamos um senso de comunidade, é mais fácil para fazer novas amizades e ter uma rede de apoio para todos os momentos.

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