A importância da Cordilheira dos Andes no regime de chuvas no território brasileiro

28/03/18 |   Estudos socioeconômicos e ambientais

Rios Voadores e Floresta Amazônica influenciam nas chuvas de boa parte do território nacional

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O Brasil, a despeito das eventuais secas que ocorrem em algumas regiões, é o país onde as chuvas são mais frequentes, com uma média de 15.200 km³/ano. O Canadá, por exemplo, que possui um território maior do que o do nosso país, apresenta apenas um terço dessa média anual de precipitação. Tal fator deve-se, principalmente, à existência da Amazônia, a maior floresta tropical do planeta.

A relação entre a Amazônia e as chuvas no Brasil ocorre em razão da existência dos Rios Voadores, que, basicamente, consistem na umidade do ar gerada pela Floresta Amazônica e disseminada para várias outras partes do país e do continente sul-americano. São essas chuvas, inclusive, que garantem a sobrevivência da própria floresta e dos recursos hídricos de boa parte das bacias hidrográficas brasileiras.

De acordo com o Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA) e a Expedição Rios Voadores*, a Amazônia é uma floresta que faz chover. De acordo com os pesquisadores, a floresta emite vapores orgânicos para o ar por meio da evapotranspiração, provocando o condensamento e a formação das chuvas. O ar úmido que também é gerado pode precipitar-se e deslocar-se para outras regiões, incluindo o Centro-Oeste do país, o Sudeste e também o Sul.

É válido mencionar que a taxa de evaporação da água na floresta é maior que em outras áreas, sobretudo aquelas que foram desmatadas. A título de comparação, podemos citar que a evapotranspiração na Amazônia ocorre em um ritmo de 3,6 a 4,2 mm por dia, ao passo em que nas áreas de pastagem essa média passa para 1 ou 2 mm diários em épocas chuvosas.

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Portanto, os regimes de chuvas no Brasil dependem muito da Floresta Amazônica, pois é ela que emite a maior parte do ar úmido que se condensa em forma de chuva em outras regiões do país. Alguns estudiosos estimam que as secas ocorridas nas regiões Centro-Oeste e Sudeste do Brasil no ano de 2014 ocorreram, em grande parte, em razão dos sucessivos desmatamentos da Amazônia ao longo dos últimos tempos. No entanto, existem discordâncias com relação a essa conclusão, uma vez que não existem dados definitivos que comprovem essa tese.

De toda forma, é importante perceber que, caso o processo de destruição da floresta amazônica continue ocorrendo, haverá um grande impacto nas chuvas do Brasil, gerando alterações climáticas de todas as ordens, como o aumento das temperaturas e a ocorrência mais frequente de secas rigorosas. A questão da água no Brasil depende, portanto, da conservação de suas vegetações.

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* Projeto Rios Voadores. Os rios voadores, a Amazônia e o clima brasileiro. Caderno do Professor. São Paulo: Editora Horizonte, s/d. p.11.


Por Me. Rodolfo Alves Pena

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A manutenção da natureza e consequente provisão dos serviços ecossistêmicos se dá a partir de diversos fenômenos. Tais aspectos estão diretamente relacionados com a estrutura, composição e funcionamento dos ambientes naturais. Os Rios Voadores são um exemplo destes tão importantes fenômenos.

O que são rios voadores?

O fenômeno conhecido como rios voadores são cursos de vapor d’agua em grandes volumes, formados por massas de ar, muitas vezes com nuvens, que são carregadas pelo vento para outros locais.

As massas de ar são oriundas da Bacia Amazônica e precipitam nas Cordilheiras dos Andes e diversos estados brasileiros, localizados na região Centro-Oeste, Sudeste e Sul. A exemplo de estados brasileiros, citam-se o Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e São Paulo.

Esses rios tem dimensões gigantescas, com cerca de três quilômetros de altura e milhares de quilômetros de extensão. Para efeito de comparação, esses rios são ainda maiores que o Rio Amazonas

Como se formam os rios voadores?

A formação dos rios voadores acontece primeiramente no Oceano Atlântico, que leva grande quantidade de umidade de água para a Floresta Amazônica. A floresta funciona como uma bomba d’agua, puxando do oceano a umidade para dentro do continente. Esse fenômeno decorre na precipitação da chuva na floresta.

Com a elevada umidade, as árvores executam o processo de transpiração e devolve para a atmosfera a chuva em forma de vapor de água. Dessa forma, originam-se os Rios Voadores, que são levados pelos ventos alísios para a Cordilheira dos Andes. A saber, os ventos alísios se caracterizam pelo deslocamento de massas de ar quentes e úmidas para regiões com menor pressão atmosférica nas zonas equatoriais da Terra.

Ao encontrar-se com a barreira natural das Cordilheiras, uma parte das massas de ar úmidas precipita na área leste, formando a cabeceiras dos rios amazônicos. A outra parte das massas de ar, isto é, uma quantidade considerável de vapor d’água é carregada pelos ventos. Assim, com o encontro com os grandes paredões dos Andes, as massas de ar úmidas fazem a curva e migram em direção a determinados estados brasileiros, bem como para regiões nos países da Bolívia e do Paraguai.

Importância dos rios voadores

Os Rios Voadores são de suma importância para o bem-estar da sociedade, além de serem responsáveis pela economia do país. Esse fenômeno é responsável pelo equilíbrio da biodiversidade, assim como, por serviços ecossistêmicos fundamentais para sobrevivência da sociedade.

Os rios são responsáveis pela chuva em áreas de grande impacto na economia brasileira, tornando essas regiões mais verdes e úmidas. Essa realidade contraria a expectativa de serem áreas desérticas, devido a sua localização. As chuvas oriundas dos Rios Voadores nessas regiões alimentam as indústrias hidrelétricas, lavouras, agricultura, dentre outros diversos tipos de indústrias. Ressalta-se que estas atividades em tais áreas são responsáveis por 70% do Produto Interno Bruto (PIB) da América do Sul, comprovando assim a importância do fenômeno.

Além das importâncias supracitadas, a partir das chuvas decorrentes dos Rios Voadores, rios e represas se enchem.

O papel das florestas

As florestas amazônicas funcionam como promotoras do ciclo das chuvas por meio dos Rios Voadores. Estima-se que uma árvore com 20 metros de diâmetro de copa, pode evapotranspirar mais de 1000 litros de água por dia. Esse valor é equivalente a mais que seis vezes que um brasileiro usa diariamente. Na Floresta Amazônica tem cerca de 600 bilhões de árvores, o que pode produzir cerca de 20 bilhões de toneladas por dia de água. Assim, pode-se considerar como um volume impressionante de vapor de água, sendo superior a própria vazão do Rio Amazonas

Tendo em vista a atuação e influência dos ambientes naturais, o papel das florestas vai muito além da sua localidade, elas são responsáveis por serviços ecossistêmicos inegociáveis. Além disso, tais formações florestais estão diretamente associadas aos recursos hídricos que levam água para uma grande parte da população brasileira e irrigam plantações, sustentam indústrias e abastecem a vegetação. Por isso, falar de Rios Voadores é falar em manutenção, conservação e proteção das florestas.

O grave erro do desmatamento na Amazônia

O alarmante desmatamento que vem sendo realizado na Amazônia tem causado danos irreparáveis para toda a sociedade. Grandes extensões de floresta foram substituídas pela agricultura, pecuária e o agronegócio de forma totalmente predatória e inconsequente. Ao ampliar as áreas desmatadas, ao mesmo tempo ocorre a diminuição da quantidade de chuva que poderia ser produzida por essas florestas.

O impacto das atividades antrópicas na sociedade é evidente, uma vez que já vem ocorrendo a diminuição das chuvas em áreas importantes para economia do Brasil, alterando também o clima mundial. Existem extensas áreas de florestas que se transforaram em áreas campestres, com uma menor umidade relativa do ar. Por isso, manter as florestas é fundamental não só para o Brasil, mas também para a atenuação do clima global.

Conhecer e compreender os fenômenos naturais é de suma importância, uma vez que estes regem os ecossistemas naturais. A interação dos eventos naturais pode ter influência direta, por exemplo, na regulação climática, como é o caso dos Rios Voadores. Além disso, entender o funcionamento destes fenômenos é tomar ciência dos aspectos que movem os pilares sociais, ambientais e econômicos.

Engenheira Florestal, redatora, mestre e doutoranda em Engenharia Florestal. Apreciadora da natureza e apaixonada pela ciência. Ao longo dos últimos anos, tenho trabalhado com inventário, manejo e biomassa florestal, estimativa de carbono e seus direcionadores, assim como na avaliação da dinâmica florestal. Atuei no levantamento de informações qualitativas e quantitativas em floresta natural de pinus (Idaho/EUA), bem como em vistorias ambientais em empresas produtoras de carvão vegetal e recuperação de áreas degradadas. Sou apaixonada por conteúdos sobre meio ambiente, com foco em conservação e preservação dos recursos naturais, dinâmica florestal e estoque de carbono. Amo trocar experiências e acredito que este seja o melhor caminho para o crescimento profissional e pessoal.

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Qual a importância da Cordilheira dos Andes no território brasileiro?

A Cordilheira dos Andes possui grande importância cultural, ambiental e econômica para os habitantes locais. O turismo é uma das atividades mais importantes da economia da região. O ponto mais alto dessa cordilheira é o Aconcágua.

Qual a influência da Cordilheira dos Andes no clima brasileiro?

O que ocorre é que os ventos úmidos dos anticiclones que provem do Oceano Pacífico ascendem por encontrar com as ladeiras da cordilheira e consequentemente descarregam toda sua umidade sobre as montanhas em forma de chuva ou neve.

Qual a importância da Cordilheira dos Andes para as chuvas e umidade do ar em todo o território nacional?

Ela puxa para dentro do continente a umidade evaporada pelo oceano Atlântico e carregada pelos ventos alíseos. Ao seguir terra adentro, a umidade cai como chuva sobre a floresta.

Como a Cordilheira dos Andes influência na pluviosidade da região Sudeste?

A ZCIT transporta a umidade do Oceano Atlântico para a região amazônica. Essa umidade, ao se chocar com a Cordilheira dos Andes, que atua como uma barreira, acaba sendo direcionada para a Região Sudeste formando a ZCAS.

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